Dizer que a doença é um caminho para a perfeição quando ela mostra uma das faces mais difíceis e às vezes bastante feia de todos nós parece um contrassenso, mas é uma verdade.
Como seríamos se nunca adoecêssemos? Seríamos capazes de sentir compaixão, sermos humildes, demonstrarmos gratidão? Quanto aprendemos ao precisarmos pedir ajuda por estar limitada a nossa capacidade de lidar com os eventos diários de nossa vida?
Não somos perfeitos mas muitas vezes acreditamos ser. Dizemos de um bebê que está para nascer “que venha perfeito” e vamos acreditando que nascemos todos perfeitos e que algo de fora, quase uma maldição, nos toma e nos faz adoecer. Que a “culpa” de eu estar doente é da bactéria, do vírus, da epidemia, da poluição, do presidente, do patrão e assim seguimos pela vida colocando no outro a responsabilidade pelo que somos. Dessa forma nos mantemos sempre no mesmo lugar, de vítima, com todo direito de se indignar ou se vingar.
Quando passamos a compreender que adoecemos porque precisamos, observamos que a bactéria associada à amigdalite está presente na boca de todas as pessoas mas só algumas adoecem e somente em certos momentos e que numa epidemia sempre existem aqueles que não pegam a doença. Começamos então a perguntar o porquê. E a resposta é simples. Depende de nós, de nossa sensibilidadade, de nosso estado de saúde ou imunidade e defesa, esta é a condição básica para o adoecimento e sendo assim também está em nós a capacidade e a potencialidade de nos curarmos.
Quando adoecemos expressamos involuntariamente coisas que buscamos esconder de nós mesmos e dos outros, a doença nos torna mais honestos e mais humanos, sendo então um grande momento de autoconhecimento, de trazer à consciência processos que no dia a dia tratamos de deixar debaixo do tapete.
Na abordagem da homeopatia identificamos a doença como um desequilíbrio interno de nossa Energia Vital, que é a energia que nosso organismo absorve das mais diversas fontes como alimento, respiração, sol e transforma, de acordo com a individualidade de cada um, em Energia Vital, isto é, em energia que mantém a vida e que se extingue no momento da morte.
O livre fluir desta Energia Vital caracteriza um estado de saúde, que se expressa pela capacidade de ser livre, sem doenças físicas ou apegos e limites emocionais. Quando há um empecilho ao livre fluir da energia, quando há uma fixação da energia em algum ponto se expressa, a nossos olhos, a doença, a moléstia que irá se manifestar no órgão mais sensível de nosso organismo. Adoecemos aonde podemos, no momento em que nos for necessário.
Neste momento de doença vemos claramente o que a desencadeou, de que forma se expressou e então podemos compreender nossas deficiências. Somente a partir deste reconhecimento é que podemos trazer à nossa consciência a nossa dificuldade e então incorporá-la e curá-la. Este processo é possibilitado pelo tratamento homeopático, tanto do momento de uma doença aguda onde os sintomas estão mais expressivos como no decorrer do tratamento crônico, dos sintomas mais arrastados que a pessoa possui.
Sendo assim a doença é a porta que nos mostra como realmente somos para podermos incorporar em nós essas dificuldades ou sombras que ainda trazemos, possibilitando serem modificadas, integradas à consciência e então sermos mais saudáveis e íntegros, seguindo assim um caminho em direção ao nosso ideal de liberdade e perfeição.

“9 No estado de saúde,a força vital de natureza espiritual (autocracia), que dinamicamente anima o corpo material (organismo),reina com poder ilimitado e mantém todas as suas partes em admirável atividade harmônica, nas suas sensações e funções, de maneira que o espírito dotado de razão, que reside em nós, pode livremente dispor desse instrumento vivo e são para atender aos mais altos fins de nossa existência.”

Organon da Arte de Curar – Sammuel Hahnemann